sexta-feira, 20 de junho de 2008

Desumanidade

Durante as minhas profundas ponderações acabo por me deparar com dilemas sobre que significa ser humano. Ao longo da história muita tinta se derramou sobre esta matéria, tendo por base diferentes maneiras base de ver o mundo, por exemplo a cosmogenia/teogonia dos gregos, a trindade cristã e hoje em dia, geralmente, sob o olhar da ciência.
Conhecendo estas vertentes e tantas outras provenientes de boatos, de mitos urbanos ou de tantas mais fontes, apercebo-me que nenhuma delas me seduz nem responde àquilo que eu anseio saber.
Normalmente todos associam o significado de ser humano a humanismo, apesar de não concordar totalmente com a definição, vou basear o meu próximo raciocínio neste ponto.
Existe um significado que, de tanto ser falado, se tornou quase inato de humanismo: amor pelo próximo conjugado pelo gosto de ver a sociedade organizada segundo este princípio. Pelo contrário, e por muito confuso que isto pareça a mim mesmo, por vezes sinto gozo em ver uma sociedade cruel e conflituosa. Chego até ao ponto de sentir necessidade de contribuir para essa desorganização, sinto vontade de plantar a semente (ou de induzir) o caos e de o ver tomar o seu curso natural (A minha glória é essa, criar desumanidade, in Cântico Negro de José Régio). Isto talvez se deva (tenho de perder o vício de tentar encontrar explicação para tudo) a eu sempre ter vivido de forma alheia à organização social dos seres humanos e de presenciar os factos como um narrador que apenas relata a história e não participa nela.
Ao contrário da falta de viver sentida pelo mesmo José Régio: “Que eu vivo com o mesmo sem-vontade com que rasguei o ventre a minha mãe”, eu nem sinto que vivo, mas sim que presencio sem viver, daí por vezes me considerar desumano (apesar da incongruência de me auto-catalogar com atributos humanos).
Vivo no caos provocado por mim, dele me alimento e vejo a vida lá fora a passar como um filme antigo projectado a preto e branco (sendo que eu tenho uma tesoura para golpear estrategicamente a fita)...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O vento

Sopra... Sopra e leva os meus pensamentos. Faz com que eles voem para longe... Para muito longe...
O tempo passa e o o vento continua a soprar mas os pensamentos não deixam de me atormentar.
Alguém diz que preciso esvaziar a mente para me poder concentrar no simples acto de apreciar a natureza. No entanto eu não sou assim, não consigo dissociar o acto de contemplar do acto de compreender, por isso a minha mente está sempre a ser agitada por pensamentos invasores.
Não sei se este é o caminho acertado, mas este trilho foi por mim escolhido e por conseguinte é meu, advém das minhas ideias e actos, e como eu costumo dizer: “mais vale escolher e errar do que ser passivo e não procurar respostas”.
O vento abranda e eu sinto os pensamentos a diminuir de intensidade dando lugar à tristeza. Um tipo de sentimento que me é tanto familiar, mas não penso que, sentido desta forma, seja muito comum no ser humano, pois assim só se sentem aqueles que buscam e não encontram: “(...) A inteligência gera tristeza (...)” in O Rei de Inverno de Bernard Cornwell.
Junto com a tristeza e a soturnidade, sou invadido pela sensação de que as minhas buscas me levam a um estado de isolamento que me transporta para mais próximo da compreensão do meu verdadeiro eu e quem sabe da resposta às minhas questões, pois suspeito que estas se encontram escondidas dentro de mim...

domingo, 27 de abril de 2008

Endless Journey

Olho para dentro... Órgãos, líquidos viscosos. Não, não era para aqui que queria olhar.
Volto a olhar, agora para dentro e para cima. Um turbilhão de imagens/sons e sensações invadem-me. Não me consigo concentrar, o meu pensamento processa-se por ideias desconexas e num ritmo descompassado, será por o tempo correr de forma diferente aqui?

Prossigo a viagem atribulada com destino ao meu próprio âmago.

Habitantes locais transmitem-me informações contraditórias e úteis ao mesmo tempo. Que estranhos seres povoam este local desolado, no entanto tão rico e variado. Serão de confiança? Falo para eles - Say friend or foe - mas não me respondem.

Mais uns passos (não sei bem em que direcção) levam-me a uma paragem diferente cheia de novos e diferentes seres que me aconselham a voltar atrás. Mas onde fica ‘atrás’? Eu não sei de onde vim nem para onde vou, só sei que navego, mas desta vez sem o meu querido navio e sem a orientação dos deuses... (Götterdämmerung?)

Arrasto-me mais um pouco...

Sou invadido por um brilho ofuscante que me obriga a fechar os olhos. Desorientado volto a abri-los deparando-me agora com um intenso e cerrado nevoeiro. Mesmo assim consigo distinguir vultos dispersos, serão os mesmos seres de há pouco? Tento alcançá-los, mas eles dissipam-se no cada vez mais denso nevoeiro e eu caio desamparado no solo rugoso.

Tento levantar-me, mas sinto os músculos flácidos e presos, por isso dedico-me a apalpar o chão em procura das respostas às minhas inquietações. Incrível, encontrei algo... Uma resposta? Tento interiorizá-la e consciencializá-la, mas de repente fica tudo no mais profundo negro.

Desespero.

Frustrado, volto a mim, mas não sei se acordo ou se adormeço...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Existência

Chove lá fora... Faz frio cá dentro... O Inv(f)erno persiste na minha alma...

Encontro mais caminhos sem saída neste labirinto infindável que é a minha existência. Mas esta é a minha existência e por mais louco (ou lógico) que pareça, estou agarrado a ela e ela a mim.

No sacrifice too great
Caught in another maze
Truly endless
Still this maze is mine
And I am thine

Prossigo apalpando a escuridão imensa, passo por passo como um bébé aprendendo a andar.
Será que é difícil compreender que a saída não está para a frente, mas sim para dentro? Tento agarrar a mente tal como faço com a escuridão, mas ela escapa (escorregadia como um peixe). Tento apaziguá-la batendo com a cabeça na parede do labirinto, mas assim só consigo sentir o líquido espesso com sabor a ferro a quem muitos chamam Vida. Eu não quero a Vida, quero compreender a minha existência, mesmo que a busca dure eternamente...

No peace for me
No peace I seek
My quest goes far beyond


Nota: As duas citações pertencem à letra de Ensorcelled by Khaos escrita por Ihsahn em 1997 para o álbum Anthems to the Welkin at Dusk.

sábado, 29 de março de 2008

Breu

Voltando a navegar no barco com a cabeça de um dragão... Que raio de rio é este onde as águas correm tão revoltas? Ou será que é o mar? Talvez seja o mar, pois o rio corre com um destino definido e eu não sei qual é o meu...



Olho para o céu, será sempre de noite aqui? Que belo é o céu nocturno! Com facilidade encontro padrões nos distantes pontos brilhantes que 'furam' a escuridão, quem sabe para compensar a inexistência deles nesta viagem sem sentido aparente.



Ás vezes sinto que encontro 'a luz ao fundo do túnel', mas não devem passar de archotes insignificantes de um povo à beira da extinção, pois são tão poucos e não há luz que consiga quebrar este breu.

Não há luz ao fundo do túnel, apenas uma caixa de fósforos passada de uma geração para a seguinte. A humanidade não tem um pavio comprido e esta geração tem o último fósforo - Jonarno Lawson

domingo, 23 de março de 2008

Intermezzo

Após alguns meses de interregno, ou de Intermezzo como decidi chamar no título do post, eis que o meu inner-self está de novo com vontade de escrever.

Durante estes meses de intenso trabalho mas também de algumas leituras interessantes (tais como 'O Cego de Sevilha' do Robert Wilson, por exemplo) houve menos tempo para divagações literárias, mas parece que agora o 'bichinho' despertou de novo.

Apercebi-me agora, enquanto estou saboreando uma laranja (quem sabe da china, como a musica famosa) de uma das grandes vantagens da escrita em relação à oralidade: permite que comamos e nos expressemos ao mesmo tempo :P

Tento fazer uma retrospectiva mental sobre os meses que passaram desde o último post, mas parece que não se passou nada verdadeiramente importante. As dúvidas sobre o meu destino persistem, nalguns dias mais dominantes do que noutros, mas sempre presentes. Continuo com as mesmas questões de adolescência: será que gosto do que faço? o que é que eu quero para a minha vida? De forma pessimista, cada vez me parece mais que o indivíduo tem menos influência na escolha, numa sociedade cada vez mais standartizada e liberalizada.

Falando agora de forma optimista, os sonhos de compor uma ópera e de escrever um livro continuam vivos e hão-de se realizar mais cedo ou mais tarde.

No entanto, como eu sou realista, não sei bem em qual dos pontos de vista me hei-de inserir, sinto-me como que a navegar à deriva num barco com uma cabeça de animal esculpida na poupa...