segunda-feira, 15 de março de 2010

Rochas e vento

Contemplando o infinito e escutando o submundo, assim existo eu. Tudo o que sei inspiro neste vento gélido que ecoa nas árvores profundamente enraizadas nas rochas milenares.
Contemplação e inspiração, duas acções aparentemente distintas, contudo complementares e de suma importância nesta colina.
Nem mesmo aqui, onde o vento sopra incessantemente, as dúvidas se esbatem. Eu atraio-as, tal como as oposições, não sendo capaz de me satisfazer com a ordem nem com as certezas. O caos é o alimento desta mente vagueante e incerta que perscruta as saliências da superfície da realidade.

E a casa? Aqui está ela, como que por magia abandonada no meio das árvores e das rochas. Reconstruindo os seus laços com a Natureza, afasta-se de mim. O que me resta? O sol? Não... Esse esconde-se, primeiro aproveitando as nuvens passageiras e depois o horizonte permanente.
Fico só, muito só. Apenas as contradições, só a elas pertenço e me entrego. Até o vento me levar...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Rio

Com os pés descalços afago o rio que corre junto a mim. Que estranha relação de proximidade esta; sinto-me, de alguma forma, atraído pelo curso de água, mas não consigo ser aceite por este. Estou constantemente a ser rejeitado quando tento mergulhar...
Tentei assumir a postura física dos seres que vejo viverem como que numa relação de simbiose com a água, no entanto o resultado não melhorou: apenas consegui engasgar-me enquanto era empurrado para a superfície.
Enquanto as dúvidas me assolam como chagas, pequenas ondas aparecem e desaparecem de forma súbita na superfície rugosa deste rio que me faz cócegas provocadoras nos pés. Será que me chama?
Não atendo a chamada, volto as costas, estendo-me no chão de olhos fechados, deixo-o seguir a sua aparentemente eterna viagem e tento dormir. Será mesmo eterna? Para onde se deslocará? Perguntas que me roem por dentro impedindo o sono de aparecer.
Vasculho a mente, por entre factos e imaginação, procurando respostas às minhas questões... Apesar da certeza que tenho na capacidade para atingir a clarificação das dúvidas, elas teimam em não se esclarecer; fogem pelos meandros das ideias por criar do meu cérebro...
Volto a mim como que assustado por um sonho marcante. Abro os olhos aos poucos, voltando-me a ambientar à realidade. Como estará o rio? Mesmo já tendo pensado tantas vezes da mesma forma, insisto na ideia: tem de ser hoje que consigo penetrar nos segredos da água que corre...
Corro, como nunca corri na vida, em direcção ao rio e salto com impulsão forte, de forma a cair o mais longe possível da margem. A meio do salto sinto a falta de algo e reparo que já não há rio! Apenas um lodo viscoso recheado de pedras pontiagudos que fazem a minha aterragem não se me afigurar muito agradável. No momento antes de atingir o chão, penso: o rio viajou e secou; e eu, que estou prestes a secar, o que fiz?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Tempo

Olho para o passado e penso no futuro. Nada alcanço; o vazio fere os olhos de forma fria e constrangedora.

Ponho os óculos e volto a fixar o tempo serpenteante. Nem protecção nem filtro, continua o vazio seco e amargo que deixa uma nódoa no cerne do meu órgão raciocinante.

Ele corre de forma aparentemente imutável qual riacho na direcção do imensamente longínquo por vir. Eu observo incapaz de enxergar, sentindo-me posto de parte mas não imune à sua acção...

As raízes nascem prendendo-me à realidade que me impede de fugir.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Desumanidade

Durante as minhas profundas ponderações acabo por me deparar com dilemas sobre que significa ser humano. Ao longo da história muita tinta se derramou sobre esta matéria, tendo por base diferentes maneiras base de ver o mundo, por exemplo a cosmogenia/teogonia dos gregos, a trindade cristã e hoje em dia, geralmente, sob o olhar da ciência.
Conhecendo estas vertentes e tantas outras provenientes de boatos, de mitos urbanos ou de tantas mais fontes, apercebo-me que nenhuma delas me seduz nem responde àquilo que eu anseio saber.
Normalmente todos associam o significado de ser humano a humanismo, apesar de não concordar totalmente com a definição, vou basear o meu próximo raciocínio neste ponto.
Existe um significado que, de tanto ser falado, se tornou quase inato de humanismo: amor pelo próximo conjugado pelo gosto de ver a sociedade organizada segundo este princípio. Pelo contrário, e por muito confuso que isto pareça a mim mesmo, por vezes sinto gozo em ver uma sociedade cruel e conflituosa. Chego até ao ponto de sentir necessidade de contribuir para essa desorganização, sinto vontade de plantar a semente (ou de induzir) o caos e de o ver tomar o seu curso natural (A minha glória é essa, criar desumanidade, in Cântico Negro de José Régio). Isto talvez se deva (tenho de perder o vício de tentar encontrar explicação para tudo) a eu sempre ter vivido de forma alheia à organização social dos seres humanos e de presenciar os factos como um narrador que apenas relata a história e não participa nela.
Ao contrário da falta de viver sentida pelo mesmo José Régio: “Que eu vivo com o mesmo sem-vontade com que rasguei o ventre a minha mãe”, eu nem sinto que vivo, mas sim que presencio sem viver, daí por vezes me considerar desumano (apesar da incongruência de me auto-catalogar com atributos humanos).
Vivo no caos provocado por mim, dele me alimento e vejo a vida lá fora a passar como um filme antigo projectado a preto e branco (sendo que eu tenho uma tesoura para golpear estrategicamente a fita)...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O vento

Sopra... Sopra e leva os meus pensamentos. Faz com que eles voem para longe... Para muito longe...
O tempo passa e o o vento continua a soprar mas os pensamentos não deixam de me atormentar.
Alguém diz que preciso esvaziar a mente para me poder concentrar no simples acto de apreciar a natureza. No entanto eu não sou assim, não consigo dissociar o acto de contemplar do acto de compreender, por isso a minha mente está sempre a ser agitada por pensamentos invasores.
Não sei se este é o caminho acertado, mas este trilho foi por mim escolhido e por conseguinte é meu, advém das minhas ideias e actos, e como eu costumo dizer: “mais vale escolher e errar do que ser passivo e não procurar respostas”.
O vento abranda e eu sinto os pensamentos a diminuir de intensidade dando lugar à tristeza. Um tipo de sentimento que me é tanto familiar, mas não penso que, sentido desta forma, seja muito comum no ser humano, pois assim só se sentem aqueles que buscam e não encontram: “(...) A inteligência gera tristeza (...)” in O Rei de Inverno de Bernard Cornwell.
Junto com a tristeza e a soturnidade, sou invadido pela sensação de que as minhas buscas me levam a um estado de isolamento que me transporta para mais próximo da compreensão do meu verdadeiro eu e quem sabe da resposta às minhas questões, pois suspeito que estas se encontram escondidas dentro de mim...

domingo, 27 de abril de 2008

Endless Journey

Olho para dentro... Órgãos, líquidos viscosos. Não, não era para aqui que queria olhar.
Volto a olhar, agora para dentro e para cima. Um turbilhão de imagens/sons e sensações invadem-me. Não me consigo concentrar, o meu pensamento processa-se por ideias desconexas e num ritmo descompassado, será por o tempo correr de forma diferente aqui?

Prossigo a viagem atribulada com destino ao meu próprio âmago.

Habitantes locais transmitem-me informações contraditórias e úteis ao mesmo tempo. Que estranhos seres povoam este local desolado, no entanto tão rico e variado. Serão de confiança? Falo para eles - Say friend or foe - mas não me respondem.

Mais uns passos (não sei bem em que direcção) levam-me a uma paragem diferente cheia de novos e diferentes seres que me aconselham a voltar atrás. Mas onde fica ‘atrás’? Eu não sei de onde vim nem para onde vou, só sei que navego, mas desta vez sem o meu querido navio e sem a orientação dos deuses... (Götterdämmerung?)

Arrasto-me mais um pouco...

Sou invadido por um brilho ofuscante que me obriga a fechar os olhos. Desorientado volto a abri-los deparando-me agora com um intenso e cerrado nevoeiro. Mesmo assim consigo distinguir vultos dispersos, serão os mesmos seres de há pouco? Tento alcançá-los, mas eles dissipam-se no cada vez mais denso nevoeiro e eu caio desamparado no solo rugoso.

Tento levantar-me, mas sinto os músculos flácidos e presos, por isso dedico-me a apalpar o chão em procura das respostas às minhas inquietações. Incrível, encontrei algo... Uma resposta? Tento interiorizá-la e consciencializá-la, mas de repente fica tudo no mais profundo negro.

Desespero.

Frustrado, volto a mim, mas não sei se acordo ou se adormeço...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Existência

Chove lá fora... Faz frio cá dentro... O Inv(f)erno persiste na minha alma...

Encontro mais caminhos sem saída neste labirinto infindável que é a minha existência. Mas esta é a minha existência e por mais louco (ou lógico) que pareça, estou agarrado a ela e ela a mim.

No sacrifice too great
Caught in another maze
Truly endless
Still this maze is mine
And I am thine

Prossigo apalpando a escuridão imensa, passo por passo como um bébé aprendendo a andar.
Será que é difícil compreender que a saída não está para a frente, mas sim para dentro? Tento agarrar a mente tal como faço com a escuridão, mas ela escapa (escorregadia como um peixe). Tento apaziguá-la batendo com a cabeça na parede do labirinto, mas assim só consigo sentir o líquido espesso com sabor a ferro a quem muitos chamam Vida. Eu não quero a Vida, quero compreender a minha existência, mesmo que a busca dure eternamente...

No peace for me
No peace I seek
My quest goes far beyond


Nota: As duas citações pertencem à letra de Ensorcelled by Khaos escrita por Ihsahn em 1997 para o álbum Anthems to the Welkin at Dusk.